quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estereótipos


Tratei de definir (e já vou explicar porque) a palavra mulheraça ou “mulherão”, na forma como é mais utilizada. E pelo que consta nas páginas do amigo Aurélio, trata-se de uma mulher alta e forte. Aprofundando o conceito e extraindo toda a sagacidade que o dicionário da língua portuguesa não alcança, mas a criatividade humana trata de incrementar, mulherão é uma mulher alta, forte, bonita e gostosa.

Quem quiser uma definição concreta, é só buscar nas páginas de revistas e imagens da TV. Um desfile de mulherões se apresenta todos os dias, para todos os gostos e preferências. Sem dúvida para quem, sendo um mulherão, implica num disparo do cifrão na conta bancária, isto é um baita currículo.

Ser mulherão abre portas. Dá asas para quem não sabe voar (mas acaba aprendendo). Transforma a mediocridade em talento, e uma simples mortal em divindade. Cria fãs-clubes, adoradores, seguidores, loucos e fanáticos.

Há décadas atrás, Marilyn Monroe foi descoberta pela sua beleza, e só depois descobriu que poderia utilizar-se dela para desenvolver a sua capacidade. O furacão loiro causou furor e arrebatamento pelo mundo todo. E quem poderia considerar que aquele belo par de pernas e de olhos, aquela boca carnuda, aquela cabeleira loira, não tivesse talento? Só um louco de pedra.

Marilyn foi o marco do mulherão. A partir dela novas e novas divindades foram surgindo e ganhando espaço nos calendários masculinos, nas revistas masculinas, e atualmente nas TVs da família inteira. Embora, com a volatilidade atual, sobreviver deste “talento” requer mesmo muito talento.

Se você percebeu certa ironia até aqui, deve ter percebido também que à medida que este conceito tem tomado proporções voluptuosas, tem causado danos às mulheres que não são nem altas, nem bonitas (para os padrões estabelecidos), nem gostosas. Mulheres que precisam trabalhar a sua autoestima, para que ela não desmorone diante de tanta divindade exposta por aí. Que se tornam escravas da balança e do bisturi, na ânsia de galgar alguns degraus do pedestal que exibe e aceita, só mulherões.

Ser bela não é ruim e nem é pecado. O equívoco consiste em valorizar apenas aquilo que se vê por fora. O que é ruim é o culto exacerbado da beleza física e do padrão estético. O que é lamentável é a conceituação de beleza como um atributo essencialmente externo, onde a alma deixa de existir. Precisamos praticar urgentemente a ginástica espiritual!

Devemos ser mulherões por tudo aquilo que temos feito e sentido e que não está marcado em nossa altura, no nosso manequim, no nosso exterior. Que o nosso espelho reflita primeiro a beleza do que somos.
Da mesma forma, devemos desejar homenzarrões sim. Somente os homens que sejam altos, fortes, bonitos e gostosos, por dentro.

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